O interesse de multinacionais e do estrangeiro tem trazido pressão sobre os salários. Empresas procuram estratégias para reter profissionais numa área com empregabilidade.

Enquanto a economia sofre os efeitos da subida da inflação e das taxas de juro, no panorama empresarial, o sector informático enfrenta outro tipo de desafios. A falta ou escassez de recursos humanos é uma “dor de cabeça” a que acresce uma forte pressão salarial para reter a mão de obra existente sob risco de esta transitar para a concorrência ou sair do país face a ofertas mais competitivas que Portugal tem dificuldade em acompanhar.

Numa altura em que o discurso político se vira para a subida do valor gerado pelo sector tecnológico, ao ponto de este eventualmente passar a ser o número um na economia regional, passando o turismo, uma das componentes críticas desse negócio, a informática enfrenta “dores de crescimento nesta busca de encontrar maior relevo e espaço no panorama económico da região.

O CEO da EAD, Paulo veiga, diz, ao Económico Madeira, que a escassez de mão de obra, seja ela qualificada ou não, “é transversal” a vários sectores da economia. Contudo o dirigente da EAD sublinha que “300% mais grave” é a falta e a escassez de recursos humanos técnicos de informática.

“Neste momento os informáticos em Portugal, programadores, administração de base de dados, sistemas, system developers, todas as áreas ligadas à informação e tecnologia (I&T) estão com uma pressão salarial que eu nunca pensei viver em 30 anos de empresa”, diz Paulo Veiga.

“O confinamento e a adoção do teletrabalho permite que as multinacionais venham buscar os melhores quadros portugueses a Portugal, paguem rates internacionais, e as empresas portuguesas que precisam deles depois não têm capacidade de acompanhar essas rate”, acrescenta o CEO da EAD.

A Connecting Software, tem quatro escritórios espalhados pelo mundo, um deles na Madeira, é outra empresa que está a sentir falta de mão de obra e que enfrenta também forte pressão salarial por via de competir num mercado global. A maior escassez tem sido de programadores.

As boas notícias de acordo com o CEO da empresa: se tiver formação nas Tecnologias de Informação (TI) existe “muito dinheiro e emprego estável” à sua espera.

“Sim, a situação no sector das TI é de falta de mão de obra em todo o lado. Portanto, se é jovem ou se tem filhos, saiba que no sector das TI, há muito dinheiro e empregos estáveis para si ou para eles”, reveIa o CEO da Connecting Software, Thomas Berndorfer.

O CEO da Connecting Software confirma também que “há sempre uma grande pressão salarial” tendo em conta que a empresa compete num mercado mundial.
“Atualmente, os especialistas em TI ganham, na sua maioria, mais do que os gestores de pequenas e médias empresas. Mais uma vez se os seus filhos se especiahzarem em TI, eles terão sempre um emprego”, diz Thomas Berndorfer.

Como forma de reter profissionais e também de atrair mão de obra Thomas Berndorfer refere que foi preciso “começar também a contratar fora da Madeira” profissionais que trabalham a partir de casa. “Além disso, estamos agora a contratar pessoas que necessitam de vistos Tech Visa. No nosso caso, contratámos russos que não queriam ficar na Rússia devido à situação política. Aí encontrámos pessoas muito boas com experiência profissional adequada”, acrescenta o CEO.

Thomas Berndorfer refere que a maior escassez tem sido de programadores, sublinhando que esta “é uma carência global”. Mas há mais.
O CEO da Connecting Software sublinha que a empresa sente falta de perfil técnicos como: Solution Architects e vendedores ou especialistas de marketing com competências técnicas na área das TI.

A Anturio é outra empresa a enfrentar desafios quer de recursos humanos quer de pressão salarial na área informática. Programadores e software de gestão são algumas das carências.

A HR Diretor da Anturio, Joana Santos, sublinha que em Portugal 81% das empresas estão com dificuldades em contratar mão de obra especializada, principalmente nas áreas de programação. E sãoaqui sinalizados os motivos: o aumento da procura, que atinge cerca de mais 38% em média de ofertas nesta área nos últimos seis meses; bem como expectativas salariais superiores aos orçamentados e de encontro ao praticado em países como a Holanda, a Alemanha, a França ou a Bélgica, o que origina uma escassez de recursos especializados disponíveis no mercado.

A solução? Joana Santos diz que passa por apostar “cada vez mais nos quadros da empresa e não deixar “fugir” estes mesmos elementos que são o pilar da empresa.
“E não deixar fugir, não é somente através do reconhecimento, mas também através da sua evolução na empresa. Por outro lado, a aposta na formação de novos elementos, que entram agora no mercado de trabalho e esta tem de ser formado à medida de cada empresa e das suas necessidades. A contratação fora de Portugal também está em cima da mesa para projetos muito específicos”, diz Joana Santos.

Joana Santos confirma também que tem existido pressão sobre os salários.

“Claramente que sim. No entanto, somos uma empresa muito diferente de todas as outras, pois para além de anualmente todos os nossos membros verem uma alteração no seu recibo de vencimento, também apostamos numa componente de prémios por objetivos, e acreditamos que em 2023, este, será a grande aposta”, explica.

Joana Santos sublinha que o maior desafio na área informática, e no caso particular da Anturio, é profissionais seniores, com experiência em softwares de gestão.

A HR diretor da Anturio diz que se consegue ultrapassar esse desafio através da formação de equipas jovens, contudo Joana Santos acrescenta que para determinados projetos o maior desafio “é mesmo a contratação de elementos mais seniores” e especificamente em determinadas regiões.

“A pressão salarial é transversal a todas as áreas, mas efetivamente com mais ênfase na área de programação, pois é a área em que a mão de obra portuguesa é muito qualificada e onde, as empresas internacionais estão cada vez mais a apostar”, refere Joana Santos.

A HR diretor da Anturio sublinha que é difícil para as empresas conseguirem acompanhar os valores praticados em países como a Holanda ou mesmo a Alemanha. “A nossa grande aposta tem sido em profissionais certos, acompanhá-los, promover a sua evolução e ao mesmo tempo apostar no seu bem-estar, na flexibilidade e num pacote salarial e emocional atrativo”, diz Joana Santos.

(in Económico Madeira 02-12-2022)