Empresas pequenas, na sua maioria descapitalizadas, e famílias a enfrentar dificuldades exigem de quem nos governa respostas claras, soluções eficazes e perspetivas reais do que vai ser o futuro.
Segundo a Wikipedia, a expressão “tempestade perfeita” é um calque morfológico (do inglês perfect storm) que se refere à situação na qual um evento, em geral não favorável, é drasticamente agravado pela ocorrência de uma rara combinação de circunstâncias, transformando-se num desastre. A expressão também é usada para descrever um fenómeno meteorológico de grande magnitude, resultante de uma inusitada confluência de fatores.
Entre a ficção de um filme de Hollywood e a realidade atual em situação pandémica, existem poucas diferenças. A definição dos tempos de pandemia, que a humanidade enfrenta, é algo tão brutal e surpreendente que ninguém, Governo incluído, consegue transmitir com rigor o que devemos todos fazer.
Claro que quem nos governa não tem de ter as respostas para tudo, especialmente numa situação nunca antes vivida neste século, mas uma profunda crise, empresas muito pequenas e na sua maioria descapitalizadas, famílias a enfrentar dificuldades de toda a natureza, exigem de quem nos governa respostas claras, soluções eficazes e perspetivas reais do que vai ser o futuro.
Entre os adeptos da teoria do CAOS (apologista que uma pequena mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro), circula a ideia de que estamos à beira do colapso civilizacional e os exemplos estão um pouco por todo o lado, resultado de uma disrupção tecnológica sem precedentes, com impacto em todos os domínios da nossa sociedade, até à situação pandémica mundial.
Os sociólogos e psicólogos alertam, os cientistas testam e comprovam e os cronistas vão titubeando ideias, mais ou menos suportadas sobre o tema, no meio estamos nós, comuns mortais, com as nossas famílias, o nosso trabalho e naturais inseguranças.
Como animais racionais que somos, estamos todos com receios de toda a natureza e, portanto, reagimos às ameaças, atacando tudo e todos. Isto acontece porque nos falta uma mensagem clara, uma orientação estratégica que nos diga o que e como fazer, numa dispersão e polarização de opiniões, aliada a uma dinâmica nunca antes vista de fake news, que nos leva a seguir um qualquer líder ou partilhar nas redes sociais, algo de um opinion maker, apenas porque este consegue impor algum tipo de argumentação.
Garanto que não era sobre isto que vos queria escrever porque o mundo precisa de esperança e eu sou uma pessoa otimista, mas, na verdade, também eu nunca fui colocado à prova num cenário destes.
Então que mensagem entregar a todos que dependem de nós, como colegas de trabalho, família e amigos?
Tem de ser uma mensagem positiva e aproveitar esta circunstância para mudar as coisas. Não se trata apenas de salvar empregos, mas também as empresas, promover uma coesão nas famílias.
Temos oportunidades que nunca ninguém teve, em especial, tecnologia robusta, disponível e barata. Poderá ser esta uma das vacinas para sofrer menos. Por isso, animem-se em apostar em novos modelos de negócio para não ficarmos no passado e todo o talento deve trabalhar nesta revolução.
Não devemos pensar apenas em sobreviver a este momento de crise, mas também preparar o futuro para as sociedades vindouras.
Temos a oportunidade de elevar o país a outro nível, com formação em novas tecnologias, para alterar os modelos de negócio, capitalizar as nossas empresas, seja com fusões ou aproveitando os incentivos à recuperação económica, criando mais flexibilidade com uma maior customização e desenho de produtos em linha com as expectativas dos clientes.
Aqui, o Governo terá de passar das palavras aos atos e demonstrar um total empenho na inovação, facilitando e apoiando projetos nesta área.
Só desta forma as empresas deixarão de desconfiar da inovação e aceitar “a digitalização da economia”. Não é uma escolha, é a realidade, é a revolução silenciosa que está a mudar tudo e todos. Ou a abraçamos e estamos na linha da frente ou nos deixamos levar e somos arrastados, e deixamos as nossas empresas ficarem para trás.
Nas empresas, temos de reunir as condições para estar um passo à frente. Se estivermos um passo atrás, veremos as mesmas desaparecer porque não se “digitalizaram” em tempo útil. O mundo digital tem de puxar pelo mundo empresarial.
Não se esqueça: os tempos atuais pedem decisões rápidas e assertivas. É preciso correr, mas temos de saber para onde.
Paulo Veiga
(in https://observador.pt/opiniao/da-tempestade-perfeita-a-oportunidade/)