A verdade é que não existem regimes políticos e económicos perfeitos para garantir o desenvolvimento dos povos, mas que a livre iniciativa empresarial ajuda, disso não tenho dúvidas.

Com o passar dos anos comecei a esquecer-me que sou economista. É estranho, porque escolhi economia por convicção, de que iria descobrir um modelo económico que permitisse a criação sustentada de riqueza para a humanidade.

De facto, fi-lo no terceiro ano da faculdade. Ainda sem conhecimentos de planeamento económico, desenvolvi, com dois colegas, um modelo baseado nas teorias dos clássicos liderados por Adam Smith (1723-1790) que é o meu farol na economia, como Jack Welch o é na gestão.

Adam Smith foi o representante mais importante da escola de Manchester, considerado o fundador da economia política moderna. A sua obra A Riqueza das Nações – Investigação sobre sua Natureza e suas Causas, de 1776, contém os princípios económicos básicos do liberalismo.

Smith atacou as teorias mercantilistas e afirmou que a riqueza de um país se baseia no trabalho individual e não na acumulação de metais preciosos. Para o bom funcionamento da economia, é indispensável uma total liberdade económica.

Voltando ao nosso modelo económico, conseguimos demonstrar que o mesmo resultava, desde que os pressupostos fossem cumpridos e, tanto quanto me lembro eram simples.

A informação macroeconómica era disponibilizada num curto espaço de tempo, credível e, como tal, os agentes económicos ajustavam as suas decisões. Por outro lado, estes mesmos agentes reconheciam como válidas as decisões dos governantes e atuavam em conformidade. Como se pode ver, era mesmo um estudo académico. É assim, a teoria económica: os modelos funcionam, se as hipóteses de partida não forem alteradas ou adulteradas.

Com o início da minha atividade profissional, a gestão tomou conta de mim e passei a focar-me no micro, em vez de adorar o macro. Cedo percebi, que tinha muitas responsabilidades e poucos direitos.

Para desilusão minha, constatei que as hipóteses de partida eram e são constantemente alteradas. Isto acontece porque temos um Estado controlador que tudo quer e tudo pode.

Tudo quer porque, entre impostos diretos e indiretos, taxas e taxinhas, para pessoas e empresas, tudo serve para alimentar uma máquina que mastiga muito e pouco entrega.

É incrível, mas ganhar 1500 euros brutos por mês é ser tratado como rico em Portugal! Tudo pode porque, quando algo não está bem, faz-se uma lei para criar ou aumentar uma coima, ou mudar uma lei incomodativa. Somos o país das leis publicadas, basta ver o Diário da República, pena, depois, serem pouco cumpridas ou fiscalizadas.

Tudo isto é frustrante para quem anda neste país, que todos adoramos, a criar valor, riqueza e a gerar emprego há quase três décadas.

Percebo que não podemos ser todos liberais e, apesar da nossa curta tradição histórica, a Constituição de 1822 e a carta constitucional de 1826 contêm os mais importantes princípios liberais: o direito à propriedade individual, onde assentam as liberdades individuais do cidadão e o reconhecimento da nação portuguesa, considerada o conjunto dos portugueses “de ambos os hemisférios”.

Em Portugal, os liberais moderados chegaram ao poder após três anos de guerra civil, em que se assistiu à transferência da propriedade, que antes pertencia às ordens religiosas, para uma nova burguesia ligada às atividades financeiras. Arrisco-me a dizer que as bases societárias e económicas do Portugal atual foram criadas nesta altura, assentes numa Constituição que foi a mais duradoura, com os seus 72 anos de vigência.

Esta estabilidade constitucional e as suas principais orientações foram fundamentais para o desenvolvimento do país.

Em conclusão, a verdade é que não existem regimes políticos e económicos perfeitos para garantir o desenvolvimento dos povos, mas que a livre iniciativa empresarial ajuda, disso não tenho dúvidas.

Como em tudo na vida, equilíbrio e ponderação dão sempre maiores garantias de sucesso.

(in https://observador.pt/opiniao/so-sei-que-nada-sei/)