No Dia da Árvore, Paulo Veiga escrever sobre a ligação entre a indústria do papel e a desflorestação e uma ligação que está a ser reabilitada.

Quando falamos em desflorestação é inevitável não pensarmos na indústria do papel. Esta associação está há muitos anos enraizada – não desperdices papel, poupa as árvores. Não sejamos ingénuos nem cor-de-rosa: a associação existe de forma legítima, mas será que a indústria do papel é ainda a grande responsável pela desflorestação, ou apenas o elo mais fraco neste grupo de predadores?

Podíamos dizer que a anterior ligação era geracional, fruto da realidade dos anos 70 e 80. Mas na verdade esta ligação continua a integrar campanhas, manuais escolares, discursos sociais e políticos de consciência ambiental – nacionais e internacionais -, e os enormes elefantes no meio da sala continuam a ser “ignorados”. Sim, plural, porque já temos uma manada deles.

São muitos os estudos que sublinham a agricultura, em particular a pecuária, a produção de óleo de palma e o cultivo de soja, como as principais causas da desflorestação a nível mundial. Um estudo de 2022, publicada na revista Science, revelou que a produção de carne de bovino foi responsável, por si só, por uns impressionantes 41% da desflorestação tropical. As plantações de óleo de palma, em particular, têm sido responsáveis por uma extensa desflorestação no Sudeste Asiático e noutras regiões tropicais, conduzindo à perda de biodiversidade e agravando as alterações climáticas.

Mas estes não são os únicos produtos. Em junho do ano passado entrou em vigor a Regulamentação Anti Desflorestação da União Europeia (EUDR), um regulamento que proíbe a importação de produtos oriundos de regiões desflorestadas, e obriga as empresas a garantir que os produtos vendidos na UE não conduziram à desflorestação nem à degradação florestal. A lista inclui os mais “perigosos”, e acrescenta aos líderes citados acima, o cacau, café, madeira, borracha, carvão vegetal e produtos de papel.

Nesta estória real, a indústria do papel já não é o lobo mau, o que também não significa que seja bom… está em fase de reabilitação. Na verdade, e contrariamente à crença popular, a indústria do papel tem feito progressos significativos nas práticas florestais sustentáveis.

Atualmente, muitas empresas dão prioridade ao abastecimento responsável, aos esforços de reflorestação e à utilização de fibras alternativas, como os resíduos agrícolas e o papel reciclado. Programas de certificação como o Forest Stewardship Council (FSC) garantem que os produtos de papel provêm de florestas geridas de forma a satisfazer as necessidades sociais, económicas e ecológicas das gerações presentes e futuras. Além de tudo isto, a indústria do papel já depende de árvores plantadas especificamente para a produção de pasta e papel.

Mas também é crucial reconhecer que, embora a indústria do papel tenha feito progressos, ainda há espaço para melhorias. A tecnologia dá uma ajuda, mas o ónus não cai apenas nestas indústrias que enfrentam naturalmente o escrutínio.

Os números são estes: Entre 1990 e 2020, perderam-se 420 milhões de hectares de floresta devido à deflorestação – o que equivale a uma área do tamanho da União Europeia, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

No Dia da Árvore é vital abordar as causas profundas da desflorestação em todos os sectores, sem ignorar elefantes, mas sublinhar que não basta apontar dedos, todas as pessoas desempenham um papel.

Em conclusão e para pensarmos, qual a energia consumida para preservar a informação digital? Qual a origem da mesma? Sim é verdade, façam uma pesquisa rápida e surpreendam-se com os resultados.

Paulo Veiga –  CEO da EAD

(in https://tek.sapo.pt/opiniao/artigos/opiniao-desflorestacao-a-industria-do-papel-e-ainda-o-lobo-mau)