O aviso vem do CEO da EAD. Paulo Veiga diz que é preciso “uma união de vontade do mais alto nível” para resolver a situação.
A Madeira tem falta de formação e de recursos humanos na área das ciências da informação e arquivística. Quem o diz é o CEO da EAD, Paulo Veiga. O empresário diz que apesar das vantagens fiscais que a região autónoma possui isso não tem sido suficiente para atrair pessoas qualificadas para a área de atuação da empresa.
Mesmo perante este cenário o grupo espera crescer, em termos globais 22%, e a faturação na Madeira deve ficar perto da duplicação.
Paulo Veiga foi um dos convidados do primeiro encontro da delegação regional da Madeira da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação (BAD).
O empresário que dirige a EAD, empresa de gestão de arquivos, diz ao Económico Madeira que é preciso existir “uma união de vontades do mais alto nível” para resolver esta situação, sob risco de a região poder perder património arquivístico.
“Estamos a assistir a um envelhecimento e a uma desatualização com a mudança de paradigma nesta ciência da arquivística que urge resolver. Temos de envolver a comunidade universitária, politécnica, rapidamente sob pena de que daqui a dez anos os atuais profissionais da área estão todos reformados e não há ninguém para os substituir”, diz Paulo Veiga.
Vantagem fiscal da Madeira não tem atraído profissionais.
O empresário refere que na região sente-se uma grande dificuldade em encontrar estes profissionais.
“Apesar de alguma vantagem fiscal não conseguimos motivar pessoas para vir do Continente para a Madeira. Não é suficiente para atrair as pessoas qualificadas para virem para a região”, reforça o CEO da EAD.
“Sentimos isto na Madeira na pele e custa-nos, custa-nos negócio, e não permite arranjar soluções que permitam tratar os documentos históricos de uma forma a contente das organizações. Proporciona o continuar do avolumar da informação que não é avaliada. E depois isto traz custos desnecessários às organizações essencialmente no setor público regional”, sublinha Paulo Veiga.
O CEO da EAD refere que podem existir cerca de 20 quilómetros de arquivo por tratar. “Está abandonado, está a degradar-se, não está inventariado, ninguém sabe onde está. E isto é ineficiente para todos. Para os organismos, para o Governo, institutos públicos, empresas públicas. É ineficiente para todos”, explica Paulo Veiga.
O empresário pede “uma união de vontades do mais alto nível” para resolver esta questão, de modo a garantir que as “próximas gerações não percam a sua identidade regional. Preservar a informação com valor histórico, valor informativo ou científico urge na região”.
O CEO da EAD alerta que se não houver um investimento neste momento com as verbas do plano de Recuperação e Resiliência PRR) ou outras este património “vai-se perder”.
De modo a tentar resolver este problema o CEO da EAD diz que a empresa tem dado a formação.
“Claro que hoje em dia podemos usar ferramentas colaborativas, podemos à distância de um clique perante uma dúvida, no terreno, darmos o apoio de backoffice das nossas pessoas que estão em Lisboa. Colocamos as pessoas a trabalhar, damos a formação inicial, damos a formação depois específica para o projeto em causa, e fazemos isso porque no processo de recrutamento e seleção fomos buscar pessoas com alguma apetência natural para terem um olhar crítico para os documentos”, explica Paulo Veiga.
O CEO da EAD refere que “não há desemprego” nesta área, “É um paradoxo. A profissão não é sexy, apenas é sexy para aqueles que a praticam. Mas é uma profissão que ao não ter desemprego tendencialmente tende a ser mais bem paga”, salienta o empresário.
“Para atrair pessoas para esta área é preciso proporcionar as condições de acesso a uma licenciatura na região, um MBA, um doutoramento, mestrado. Envolver a universidade, os politécnicos, etc… Tem de ser uma decisão estratégica tomada pelo Governo Regional ao mais alto nível caso contrário com o envelhecimento todos estes serviços vão ficar altamente deficitários”, alerta o CEO da EAD.
Mais verbas do PRR para o digital
O CEO da EAD refere que deveriam existir mais verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para as empresas efetuarem a digitalização.
“O Madeira Digital tem quatro milhões para distribuir para as empresas, PME’s e micro empresas. Não se faz um projeto de transformação digital eficiente e eficaz com apoios médios na ordem dos 500 ou 1.000 euros. É para mim uma oportunidade perdida. Acho que a Madeira fez uma boa negociação das verbas do PRR. Penso que nesta questão do apoio à transição digital das empresas vai ficar aquém das reais necessidades das empresas”, defende Paulo Veiga.
Se na Madeira existe falta de formação na área, já no Continente existe a formação mas faltam os técnicos.
“Há muitos jovens a serem formados. Há cursos. Há de facto jovens a sair e muito bem preparados para o chamado novo paradigma da arquivística. As dificuldades são a falta de técnicos mas há formação dos técnicos. Estamos numa profissão de pleno emprego”, diz o CEO.
Relativamente à Madeira, o CEO da EAD refere que a empresa continua à procura de instalações, para comprar, de modo a expandir-se.
Paulo Veiga salienta que a empresa tem sido contactada para efetuar vários serviços.
Em 2021 a EAD cresceu 16%, e aumentou a margem de EBITA para 30%, no global. Foram contratadas para os quadros mais de 22 pessoas em termos líquidos. A faturação atingiu 12 milhões de euros, sendo que 80 mil euros na Madeira, e empregou 380 pessoas.
O objetivo da EAD é de crescer 22%, em 2022. Na Madeira a expetativa é que a faturação atinja os 150 mil euros.
O crescimento de 22% é explicado essencialmente pelos projetos que “estão a ser desenvolvidos para o setor público, a administração central no Continente e local. O setor privado também tem peso importante, a nossa percentagem sobre o setor privado é 70/30”, refere Paulo Veiga.
Em 2021 o CEO da EAD sublinha que a empresa entrou numa nova área de negócio, ao ganhar o backoffice da Nowo.
“O contrato é de um milhão de euros a dois anos e temos 40 pessoas a trabalhar no backoffice. Este também vai ser um importante driver de crescimento da EAD”, diz o CEO.
(in https://jornaleconomico.pt/noticias/sos-precisa-se-arquivistas-na-madeira-872189)