“O problema não é o plástico, mas o que fazemos dele”. A frase é do norueguês Erik Solheim, diretor da divisão de ambiente das Nações Unidas. Mas podia ser de qualquer um de nós. Das mais de 360 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente, 13 milhões vão parar diretamente ao mar. Para a produção atual de plástico são necessários 17 milhões de barris de petróleo.

É necessário diminuir o uso do plástico a partir da fonte, mas também precisamos de gerir melhor os resíduos que produzimos. Apenas 9% de todos os resíduos de plástico foram reciclados, a nível mundial. 12% desses resíduos foram incinerados e o resto, 79%, acumula-se em aterros, lixeiras ou no ambiente.
A Comissão Europeia decidiu, em finais de maio, atacar o problema e propor medidas robustas contra os plásticos descartáveis. A ideia é mesmo banir o plástico de diversos objetos de uso quotidiano, com destaque para os cotonetes, talheres, pratos, palhinhas, agitadores de bebidas e paus para balões em plástico, dado que podem já ser produzidos exclusivamente a partir de matérias-primas de fontes renováveis. Além destes produtos, também os recipientes descartáveis para alimentos e bebidas estão na mira da Comissão Europeia.
Os Estados-membros terão de reduzir a utilização de plástico, seja por fixar objetivos nacionais de redução, tornando disponíveis produtos alternativos nos pontos de venda, seja proibindo o fornecimento gratuito de plásticos descartáveis, tal como aconteceu com os sacos de plástico distribuídos nas caixas dos supermercados.
Outra novidade da proposta prende-se com o aumento da recolha das garrafas de plástico descartável para bebidas, esperando que a mesma atinja 90% em 2025. Para alcançar este valor, pode-se recorrer à restituição de depósitos, como taras recuperáveis, como acontecia na generalidade das garrafas de vidro noutros tempos. Esta prática é, aliás, comum em vários países europeus, nos quais se conseguem elevadas taxas de recuperação de embalagens de vidro, metal e mesmo plástico.
A situação nos oceanos preocupa, sobretudo no Pacífico e no Índico: os países asiáticos ainda têm muita dificuldade em gerir os seus resíduos – muitos não fazem, sequer, a recolha e o tratamento – e o destino deles, na maior parte dos casos, é o mar. Cerca de metade dos resíduos de plástico que acabam nos oceanos são gerados em cinco países: China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname. Mas os oceanos não têm fronteiras e o plástico, que pode demorar centenas de anos a “desaparecer” do fundo dos mares, vai-se degradando em partículas cada vez mais finas – os chamados microplásticos – e afetar espécies marinhas.
Estima-se que 100 mil animais marinhos morram todos os anos devido à ação do plástico. Os peixes que consumimos também têm vestígios destes materiais no estômago: portanto, também nós poderemos estar a consumir plástico por via indireta, e ainda não sabemos quais as consequências disso.
Como reduzir o plástico

Como evitar usar sacos para pesar fruta e legumes no supermercado?
Em muitos estabelecimentos é possível pesar na caixa e, assim, poderá ser usado um saco alternativo em papel, pano, rede ou até plástico reutilizável e que pode ser levado de casa. É este desafio que lançamos aos restantes estabelecimentos, onde esta prática não é possível. Contudo, o mais importante é que, qualquer que seja o tipo de saco, este deve ser reutilizado em casa e, em fim de vida, colocado no contentor apropriado para a sua reciclagem.
Podemos voltar à venda a granel de outros produtos?
Antes do boom do plástico, era esta a prática corrente e, hoje, volta a ser possível em alguns estabelecimentos, ainda que poucos. É possível comprar uma série de produtos a peso – o que permite até adequar a quantidade às necessidades de cada um – sendo permitido que os clientes usem os seus próprios sacos ou recipientes.
As lojas a granel ou as secções de produtos avulso nos supermercados disponibilizam cada vez mais artigos que se podem adquirir desta forma. Mas a maioria ainda não está rendida a esta alternativa. No site A Granel poderá verificar quais as lojas que já aderiram a este conceito, onde se localizam e quais os produtos disponibilizados.
O governo, por seu lado, avalia a possibilidade de reduzir o IVA dos produtos vendidos desta forma, como estímulo à compra.
E os produtos de limpeza?
Neste caso, as possibilidades são ainda mais limitadas. Alguns deles contêm substâncias perigosas, como a lixívia, por exemplo, e apenas devem ser vendidos em embalagens específicas e munidas com tampas de segurança. Contudo, os detergentes que não apresentam a mesma classificação de perigo são já comercializados “a granel” em muitas cadeias de supermercados de vários países, como é o caso de Espanha, França e Itália. Aliás, estão já incluídos nos testes comparativos que as associações nossas congéneres efetuam, não tendo revelado qualquer diminuição de desempenho pelo facto de uma embalagem reutilizável ser usada no local para reenchimento. Aqui fica mais um desafio para as nossas cadeias de supermercados.
Mas, à exceção da compra de produtos de limpeza, podemos banir o uso de sacos plásticos?
Podemos reduzi-los ao mínimo:
não utilize produtos descartáveis, como lâminas de barbear, pratos de plástico, cotonetes, etc.;
evite comprar água engarrafada. É melhor reutilizar uma garrafa. Prefira as de vidro;
escolha marcas que utilizem plástico reciclado;
partilhe com amigos e mais próximos, toda a informação que tiver. Incentive-os a adotar comportamentos mais adequados;
qualquer que seja o material de embalagem, há sempre um contentor – amarelo, verde ou azul – à espera de o receber.
Testámos sal, moluscos e crustáceos e encontrámos microplásticos
Será que andamos a ingerir microplásticos sem saber, quando preparamos peixe à refeição?
As associações de consumidores da Áustria, Bélgica, Espanha, Itália e Dinamarca testaram 103 produtos de três categorias: o sal marinho, os moluscos e os crustáceos. Encontraram microplásticos em quase todas as amostras.

Sal marinho

Os microplásticos apareceram nos testes em laboratório: mais de metade (66%) das amostras estavam contaminadas (40%) ou tinham vestígios destes materiais (26%).

Moluscos

O resultado foi muito semelhante ao registado nas amostras de sal marinho, confirmando uma presença constante de microplásticos.

Crustáceos

Em laboratório, também não passaram impunes. Quase repetiram as conclusões do sal marinho e dos moluscos: 35% registavam a presença, e, em 31% das amostras, vestígios.
Outro estudo recente, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), do LAQV-REQUIMTE (da Universidade Nova de Lisboa) e da Docapesca, encontrou microplásticos (partículas e fibras) no trato digestivo de 17 espécies comerciais em Portugal. E a designação “comercial”, neste caso, quer dizer mesmo o que já está a suspeitar: as espécies são para consumo humano.
Por isso, podemos estar a consumir, através destes peixes, o mesmo plástico que foi parar indevidamente aos oceanos. Mas ainda não é possível fazer uma associação entre este consumo e problemas de saúde humana.

(IN Deco Proteste)