Onda de lama e lixo tóxico chega ao mar, 650 km depois
O rebentamento de duas barragens no município de Mariana, no Brasil, foi a 5 de novembro, mas quase 3 semanas depois os efeitos continuam a sentir-se. A primeira vaga de lama chegou no domingo ao mar. Para além dos problemas de saúde pública, com a contaminação das águas do Rio Doce, existem também ecossistemas ameaçados.
A corrente de lama e detritos mineiros gerada pelo rebentamento das barragens do Fundão e de Santarém e que destruiu, a 5 de novembro, várias zonas residenciais no sudeste do Brasil chegou finalmente ao Oceano Atlântico.
As informações divulgadas pelo ministério do Ambiente brasileiro dão conta de que o fluxo de lama gerado pelo rebentamento das barragens percorreu 650 quilómetros, em 16 dias, sobre o rio Doce.
No sábado um véu de água barrenta já era visível na região costeira de Regência, onde desagua o Rio Doce, mas foi no domingo que a onda de lama atingiu em força esta zona do distrito de Linhares.
A área afetada faz parte da Reserva Biológica de Comboios, uma zona costeira protegida usada para desova de tartarugas marinhas, incluindo a espécie tartaruga-de-couro, criticamente ameaçada de extinção, explica o site brasileiro ABCdoABC.
A chegada da onda de lama coincide com o pico da desova das tartarugas. Elementos do Centro Tamar-ICMBio têm estado a retirar da praia de Regência os ovos já deixados pelas tartarugas e continuam a vigiar o local para perceber como é que estes animais reagem à situação.
Também as praias da região começam a ficar cheias de peixes mortos. Vários sites brasileiros descrevem peixes com guelras cheias de areia, o que os impede de respirar.
A onda de detritos e lama já tinha afetado o abastecimento de águas de várias localidades ao longo do Rio Doce. Segundo o site brasileiro globo.com, as águas sujas atingiram três municípios: “Linhares, que não usa as águas do Rio Doce para abastecimento da cidade; Baixo Guandu, que passou a usar as águas do Rio Guandu; e Colatina, que tinha o rio como única fonte de captação e há cinco dias suspendeu o uso da água”.
A empresa Samarco, proprietária da barragem, prometeu dar pelo menos 260 milhões de dólares (244 milhões de euros) para reparar os danos ambientais. Entretanto, várias máquinas, pagas pela empresa, estão a ser utilizadas nos trabalhos de abertura da boca do canal, com o objetivo de facilitar o rápido escoamento da lama para o mar.
Segundo o site ABCdoABC, o mistério do Ambiente brasileiro estima que uma extensão de 9 quilómetros da costa do Espírito Santo será afetada pela lama mas, e segundo testemunhos dos técnicos no local, a área pode ser muito maior uma vez que, muitos quilómetros acima do Rio Doce, ainda é visível muita lama que precisa de chegar ao mar.
A rutura das duas barragens causou 12 mortos e 12 desaparecidos. Mais de 280 mil pessoas estão sem água e milhares de animais morreram.
(In TSF)