É um erro avaliar uma empresa unicamente com base na informação contabilística, o valor de uma empresa não é uma questão puramente objetiva, antes pelo contrário por se tratar de um tema multidisciplinar, com mais frequência aborda o tema como sendo algo meramente financeiro.

A questão do valor da empresa relaciona-se com a contabilidade, com comportamento, macroeconomia, tecnologia, património e a marca. Pela sua origem e a partir da pressão exercida por vários agentes externos, surge uma nova área de estudo foi tomando corpo, definindo-se à luz das mais variadas fontes conceptuais.
No que se refere aos gestores, ou seja, responsáveis da empresa, cada vez mais, são avaliados pelo desempenho na gestão de valor da empresa que gerem, numa palavra, o lucro. Isto é para mim um tremendo erro, claro que o lucro é importante e fundamental, pois só com o mesmo a empresa pode continuar a investir e portanto a inovar.

Há dois anos uma consultora multinacional perguntou-me quais eram as minhas funções, enquanto gestor da EAD, e respondi simplesmente: assegurar a sustentabilidade da Companhia no medio prazo. Ficaram calados, não estão formatados para ouvirem uma resposta destas. Esperam respostas como assegurar o cumprimento dos objetivos do acionista ou garantir um Yeld X, etc

É por isso que reafirmo que os planos de negócios das organizações são cada vez mais formulados para que o foco das ações seja sobre a gestão do valor. A mensurabilidade de indicadores, abrangência e a clareza de seu entendimento são de grande importância na sua definição. Estes indicadores devem permitir aos gestores traçar planos de longo prazo e acompanhá-los no curto prazo a partir de uma hierarquia definida.

Ao longo do tempo, os desenvolvimentos nesta área têm sido intensos, nomeadamente na evolução do conceito e do entendimento do que é o valor da empresa. Nesse sentido, podem ser citadas as seguintes etapas percorridas ao longo do desenvolvimento da Gestão do Valor Empresarial:

1 – Foco no volume de vendas/faturação. Este conceito manifesta uma clara falta de controlo sobre outros elementos da atividade. A gestão estava centrada preferencialmente na atividade comercial. Em algumas organizações, sobretudo de pequena dimensão, esta visão ainda é a única existente de maneira consistente;

2 – Foco na margem bruta e operacional. Aqui assistiu-se a um avanço sensível em termos de pretensão de controlo sobre outros elementos importantes, já que o controlo sobre custos e despesas se torna possível e exige uma certa estruturação contabilística para que possa ser desenvolvido;

3 – Foco no lucro líquido. A organização passa a preocupar-se com a criação de resultado para poder distribuir ao acionista, bem como se apercebe que a estrutura contabilística necessárias é mais complexa e exige maior confiança nos relatórios financeiros daí emanados;

4 – Foco no retorno sobre o investimento. Aqui se percebe uma importante mudança em resultado da perceção que passou a existir de que o controlo não deve ser só sobre a operação, mas também sobre os recursos que tornam viável tal operação;

5 – Foco no valor. A partir deste momento, a empresa além de se preocupar com o resultado obtido pela entidade e os recursos requeridos para as operações daí derivadas, preocupa-se também com o efetivo impacto sobre o valor da entidade que leva em conta variáveis internas e externas à empresa, tangíveis e intangíveis e com nuances de curto e de longo prazo, o que torna a abordagem ainda mais complexa de ser compreendida.

Na verdade, todas essas contribuições não são incongruentes entre si, ou seja, uma nova contribuição não necessariamente invalida as anteriores; ao contrário, as contribuições podem ser vistas como cumulativas, como avanços; contudo, no passado, o progresso nessa área foi visto como uma sequência de ruturas em relação às contribuições anteriores provocando uma sensação de espanto e insegurança por parte dos utilizadores dessas informações já que é um mercado cada vez mais competitivo, os gestores vêm-se obrigados a perseguir as melhores soluções, o que, normalmente, não pode ser algo imediatamente generalizado.

Em suma, interessa realçar que tanto para os acionistas como para os gestores, é fundamental entender este assunto de maneira integrada. As questões técnicas são importantes mas nunca devemos esquecer que o comportamento humano é o fator que define o tom da gestão, inclusive na gestão do valor empresarial. É aqui que as empresas portuguesas se devem focar cada vez mais, para maximizarem o seu valor; apostando na inovação, valorização dos seus recursos humanos, know-how e tecnologia, na criação da sua marca e no alargamento do seu mercado através da internacionalização. E assim se poderá criar valor empresarial e riqueza para Portugal.